A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) teve um grande aumento na sua incidência nos últimos anos. O aumento do peso e alterações nos hábitos alimentares pode ter contribuído para esse fato. Apesar da excelente resposta ao tratamento medicamentoso, o avanço na técnica cirúrgica com a implantação da videolaparoscopia causou um aumento na indicação da cirurgia para tratamento de pacientes portadores de DRGE.
Nosso grupo foi um dos pioneiros a tratar a DRGE por videolaparoscopia no Brasil. Já realizamos desde 1992 mais de 2000 procedimentos antirrefluxo sempre por vídeo-laparoscopia. Atualmente realizamos cerca de 120 cirurgias antirrefluxo ao ano. Abaixo você encontra informações mais detalhadas sobre a DRGE.
Definição: Doença do refluxo gastroesofágico é uma afecção digestiva crônica que ocorre quando o conteúdo do estômago (ácido ou não) volta para o esôfago, provocando sintomas locais (no próprio esôfago) ou em outros órgãos.
Sintomas: O sintoma mais típico é a sensação de queimação no peito (azia), às vezes subindo para o pescoço e garganta. Pode haver também refluxo alimentar ou de líquido.
Ambas são condições digestivas que a maioria das pessoas pode apresentar eventualmente, entretanto ,quando ocorrem três ou mais vezes por semana ou interferem na vida diária, um médico deve ser consultado.
Em alguns casos, podem acontecer também: dor no peito, tosse seca, rouquidão ou dificuldade para engolir.
Procure ajuda médica imediatamente se sentir dor no peito, especialmente quando acompanhada de dor na mandíbula ou no braço esquerdo ou falta de ar. Estes podem ser sinais e sintomas de um ataque cardíaco.
Causas: Quando você engole, o esfíncter inferior do esôfago - uma faixa circular de músculo ao redor da parte inferior do esôfago - relaxa para permitir que os alimentos e líquidos possam passar para seu estômago.
Em seguida, ele fecha novamente, impedindo que o conteúdo gástrico volte.
No entanto, se esta válvula relaxa anormalmente ou enfraquece, o ácido do estômago pode retornar para o esôfago, causando os sintomas. Este refluxo constante do ácido pode irritar o revestimento interno do esôfago, causando a inflamação (esofagite) e outras complicações (vide abaixo).
Muitas pessoas confundem - e às vezes usam como sinônimo - a hérnia de hiato com a doença do refluxo gastroesofágico.
Hérnia de hiato é a migração de parte do estômago (em casos mais sérios até do estômago todo) em direção do tórax. Esta migração ocorre pelo orifício natural existente no diafragma, chamado hiato – daí o nome hérnia de hiato.
A hérnia muda a dinâmica da transição esofagogástrica, diminuindo sua capacidade de conter o refluxo, então, é muito comum a associação de hérnia de hiato com refluxo gastroesofágico. Mas há um grande número de pessoas com refluxo grave e sem hérnia de hiato, e também pacientes com hérnia de hiato e que não têm refluxo.
Complicações: Ao longo do tempo, a inflamação crônica no esôfago pode levar a complicações, incluindo:
• Estreitamento do esôfago (estenose esofágica): Danos às células do esôfago inferior pela exposição prolongada ao ácido pode levar à formação de tecido cicatricial. O tecido cicatricial estreita a via alimentar, causando dificuldade de deglutição.
• Esôfago de Barrett: A exposição ao suco gástrico por vários anos pode levar à transformação do revestimento normal do esôfago em um revestimento diferente, com células intestnalizadas, que recebe o nome de Esôfago de Barrett. Esta transformação está associada a um risco aumentado de câncer de esôfago. O risco de câncer é baixo, mas seu médico irá recomendar exames regulares de endoscopia para procurar sinais precoces de alerta.
Testes e diagnóstico: Após consulta médica, podem ser solicitados alguns exames para confirmar seu diagnóstico antes do tratamento.
Endoscopia digestiva alta: É o exame inicial para diagnosticar a doença do refluxo e outras doenças do sistema digestório que podem confundir-se com o refluxo. Durante a endoscopia, feita sob sedação, o médico insere, por sua boca, um tubo fino e flexível, equipado com uma câmera (endoscópio). O endoscópio permite ao médico examinar o esôfago, estômago e o duodeno. Seu médico também pode usar a endoscopia para coletar uma amostra de tecido (biópsia) para testes adicionais.
• pHmetria de 24 horas: Em alguns casos, a endoscopia pode não mostrar alterações que caracterizem a doença do refluxo, e pode ser necessário um exame mais específico. A pHmetria consiste em introduzir um cateter fino pela narina e posicioná-lo no esôfago, medindo continuamente, por 22 a 24 horas o pH esofágico, podendo estabelecer um parâmetro fiel da exposição ao ácido. O exame também serve para estabelecer uma relação dos seus sintomas com a presença de ácido no esôfago. Para um exame preciso, deve-se interromper todas as medicações que agem no estômago por 10 dias, no mínimo. Geralmente a pH-metria é acompanhada de uma manometria esofágica.
Esquema de colocação do cateter de pH-metria
Manometria esofágica: Em alguns pacientes é necessária uma avaliação minuciosa da função esofágica. Este exame é feito através da introdução pela narina de um cateter que irá medir a localização, pressão e o relaxamento do esfíncter inferior do esôfago. Vai também avaliar a força e condução das ondas de deglutição no corpo esofágico.
Tratamentos e medicamentos: Antiácidos, como Maalox, Mylanta, Gelusil, Gaviscon, podem proporcionar alívio rápido dos sintomas e estão indicados para sintomas esporádicos. Não permitem cicatrização da esofagite e nào devem ser usados por longos períodos sem avaliação adequada.
Os medicamentos utilizados atualmente para o tratamento da doença do refluxo são os inibidores da bomba de protons (IBP), que agem bloqueando as células que produzem o ácido gástrico, aliviando os sintomas e permitindo cicatrização das lesões. Esses medicamentos podem ser usados por 4 a 8 semanas para tratamento da esofagite, mas por vezes é necessário seu uso continuo para manutenção dos resultados.
Outros medicamentos que podem ser usados para auxiliar no tratamento são os procinéticos (domperidona, bromoprida), que aumentam um pouco a pressão da válvula antirrefluxo e aceleram o esvaziamento do estômago, diminuindo a chance do refluxo.
A maioria DRGE pode ser controlada através de medicamentos, mas há situações em que a cirurgia está indicada para o tratamento.
Atualmente, a cirurgia para tratamento da doença do refluxo é feita por videolaparoscopia. São cinco pequenas incisões, de 5 ou 10 mm, feitas no abdome. Por essas incisões são inseridos uma micorcâmera e finos instrumentos que são usados para reposicionar o estômago no abdome, tratando a hérnia de hiato, e para envolver o esôfago com parte do estômago, formando um mecanismo valvular antirrefluxo conhecido como fundoplicatura.
Mudanças do estilo de vida que podem contribuir para melhora dos sintomas: Manter um peso saudável: quilos em excesso podem exercer pressão sobre o abdome, empurrando para cima o conteúdo gástrico, provocando refluxo.
Evite roupas apertadas: Roupas que se ajustam firmemente em torno de sua cintura uma pressão sobre o abdome e do esfíncter inferior do esôfago.
Evite alimentos que provoquem azia. Cada pessoa tem suas intolerâncias pessoais. Os alimentos que mais desencadeiam sintomas são: alimentos gordurosos ou fritos, chocolate, menta, alho, cebola, pimentão. Bebidas alcoólicas (em especial o vinho tinto), café, chá preto, refrigerantes e sucos ácidos também podem causar sintomas.
Não deite-se após uma refeição. Espere pelo menos 2-3 horas antes de deitar ou ir para a cama.
Eleve a cabeceira de sua cama. Uma elevação de cerca de dez centímetros pode prevenir o refluxo noturno. Colocar os blocos de madeira ou de cimento sob os pés de sua cama na extremidade da cabeça.
Não fume. Fumar diminui a capacidade do esfíncter inferior do esôfago para funcionar corretamente.